HISTÓRIA E PROJETO


BREVE HISTÓRIA

SOBRE A FERROVIA BAHIA MINAS



Em meados do séc. XIX, as elites econômicas das cidades do Serro e Diamantina, região “norte de Minas”, tinham um pensamento recorrente: conseguir um acesso ao mar sem a necessidade de utilizar os caminhos do período colonial.

As duas opções que se mostravam mais viáveis eram utilizar a navegabilidade do rio São Francisco ou a construção de uma ligação com a região costeira do estado da Bahia, dotando o “norte mineiro” de um porto no litoral sul baiano.

Entretanto esta última opção seria um percurso por terra, passando pelo nordeste de minas, uma região até então inexplorada, coberta de florestas e habitada por silvícolas. 

O empresário, político e visionário serrano Teófilo Otoni já havia tentado colonizar e desenvolver a região através da empresa Companhia de Comércio e Navegação do Rio Mucuri, fundada e dirigida por ele entre 1847 e 1860, mas não obteve sucesso.

Mesmo com a falência da Companhia de Navegação, a colonização da região nordeste de Minas, inclusive com a vinda de imigrantes alemães, prosperou.

Isto estimulou a solicitação para a construção de uma estrada de ferro ligando a cidade de Caravelas no litoral sul da Bahia à cidade de Filadélfia/MG (atual Teófilo Otoni).

Aprovada a solicitação pelo governo do estado de Minas Gerais e, posteriormente, pelo da Bahia, as obras foram iniciadas no ano de 1881 e Caravelas foi o ponto de partida. Vencendo uma série de dificuldades, como falta de material, ataque de índios e deficiência de mão de obra, os trilhos avançaram atingindo a divisa com Minas Gerais um ano depois. 

À medida que as obras prosseguiam, estações foram construídas e no seu entorno começaram a surgir povoados e cidades.

Consequentemente, a ferrovia atraiu aportes, criou e desenvolveu entre outras atividades a extração e beneficiamento de madeiras, o plantio de café, a criação de gado em terras até então inóspitas, fomentando assim a geração de empregos e o crescimento econômico.

Em 1898, os trilhos chegaram à cidade de Teófilo Otoni. Sentiu-se neste momento a necessidade da construção de uma grande oficina para manutenção das locomotivas e vagões, o que foi feito em 1918 num local denominado Ladainha.

Lá, foram implantadas também a estação férrea e as casas dos funcionários. Anos depois, em 1941, os trilhos atingiram Alfredo Graça e, em 1942, Araçuaí - sua estação final definitiva.

Os números dos avanços econômicos da região advindos da ferrovia são bem expressivos.

Dados sobre a Bahia Minas publicados numa matéria de 02 de agosto de 2015 do Jornal Estado de Minas mostram que de 1935 a 1944 o volume nos vagões de carga passou de 76.874 toneladas para 174.161 toneladas gerando um aumento de 126%.

Já o total de passageiros subiu em escala maior num período menor. De 51,3 mil pessoas transportadas em 1935 passou para 373 mil em 1940, registrando um acréscimo de 627%.

Mas o avanço da concorrência das rodovias, a falta de planejamento e de investimentos públicos no setor ferroviário, além da má gestão e a corrupção decretaram o fim da ferrovia em 1966.

O fim da BahiaMinas com a retirada dos trilhos e o abandono das estações e demais estruturas levou o compositor mineiro Fernando Brant juntamente com Milton Nascimento a comporem a música Ponta de Areia, cujos versos eternizaram a saudade deixada pela antiga ferrovia: 

 “Ponta de Areia, ponto final/ Da BahiaMinas, estrada natural/ Que ligava Minas ao porto, ao mar/ Caminho de ferro mandaram arrancar/ Velho maquinista com seu boné/ Lembra do povo alegre que vinha cortejar/ Maria-fumaça não canta mais/ Para moças flores janelas e quintais/ Na praça vazia, um grito, um ai/ Casas esquecidas, viúvas nos portais”.

"Milton Nascimento"

DOS TRILHOS DO TREM À ROTA CICLOTURISMO


A Rota de Cicloturismo da Bahia-Minas é uma das maiores propostas de resgate de um antigo trecho de ferrovia desativada para atividades turísticas do país.

Adaptar leitos de ferrovias desativadas para outras atividades são iniciativas comuns no mundo todo. Como o caminho original da Bahia-Minas foi construído para ser uma ferrovia, a variação de altitude é pequena – vai de cerca de 800 metros acima até o nível do mar em um desnível suave, que em vários trechos segue os leitos dos rios e as curvas de nível do terreno. 

A pista por onde passam as bicicletas é em grande parte de terra e cascalho, mas em geral o terreno está compactado, facilitando a mobilidade. Ela tem largura suficiente na maioria dos trechos para operar em duas vias, o que permite que se pedale lado a lado, caso se esteja em dupla ou em grupo. 

Além disso, a Rota proporciona uma imersão na história muito rica, porém pouco divulgada do Brasil, e ainda permite apreciar belas paisagens recheadas por boas conversas. 

Os trilhos foram retirados, mas a maior parte de seu trajeto original mantém-se preservado. A estrada de ferro levou mais de 50 anos para ser concluída. Sua construção começou no séc. XIX e foi finalizada em meados do séc. XX, vencendo enormes desafios. 

A região ainda era uma imensa floresta habitada por índios que lutaram contra a ocupação de seu território, rendendo ao lugar muitos casos e aventuras. Mas o apito do trem traz ainda muitas recordações nas pessoas que vivenciaram e trabalharam na época em que as locomotivas levavam e traziam um pouco de tudo. São histórias que a população gosta de compartilhar e são boas de ouvir.

No caminho pode-se observar várias edificações históricas que estão resistindo. A maior parte delas ainda está de pé, bem como dezenas de casas erguidas para os funcionários da antiga ferrovia. Alguns desses imóveis estão bem preservados e outros necessitando de manutenção. Além das casas, existem também dezenas de pontilhões de ferro fundido, hoje adaptados para o tráfego de automóveis ou abandonados, mas mantendo muitas das suas características únicas.

Em seu percurso, nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, no interior de Minas Gerais, a paisagem vai mudando com graça e beleza, provido pelas diferentes espécies de flora e fauna, proporcionando um verdadeiro show de encantamento e diversidade.

Agora, imagine conhecer tudo isto fazendo este percurso de bicicleta!

A Rota Bahia-Minas tem muitos atributos para se tornar um novo destino turístico. No trajeto da antiga ferrovia e seu entorno é possível deparar-se com uma infinidade de atrativos. Há pequenas e médias cidades, vilas, capelas, igrejas, antigas estações, fazendas, sítios, rios, riachos, lagoas, cachoeiras, antigos túneis da ferrovia, grandes formações rochosas (resultantes de milhões de ação da natureza), matas e plantações. E ao encontrar algum morador no caminho, certamente qualquer pedido de informação rende sempre um bom “dedo de prosa”

As cidades do trajeto possuem serviços para receber turistas, com pousadas familiares ou hotéis. A comida mineira é reconhecida como uma das mais saborosas do nosso país, não é diferente no nordeste de Minas. Na gastronomia dos Vales do Mucuri e do Jequitinhonha, o destaque é a carne de sol, seguido pelo biscoito de goma, queijos, requeijões e a produção da legítima cachaça mineira. Além disso, as receitas caseiras e as quitandas encantam todos os paladares. Essa diversidade por si só é uma das experiências marcantes da Rota Bahia-Minas.

Textos de Marcelo Prates. Edição de Luciana Thomé.

O PROJETO


O olhar atento sobre as oportunidades de desenvolvimento econômico através do turismo, nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, foi uma das importantes iniciativas dos parceiros SEBRAE e Circuito Turístico das Pedras Preciosas, que numa imersão no território no ano de 2019 vislumbraram a possibilidade de criar um projeto integrado entre municípios para estruturar numa nova rota em Minas Gerais. 

Com o apoio das prefeituras municipais de Araçuaí, Novo Cruzeiro, Ladainha, Poté, Teófilo Otoni e Carlos Chagas, construíram juntos uma proposta coletiva para estimular o empreendedorismo e a geração de renda através do turismo ao longo de mais de 340 km de rota, envolvendo mais de 50 pequenos negócios de comunidades rurais e áreas urbanas, que beneficiam direta e indiretamente dezenas de famílias. 

Capacitações, consultorias, treinamentos e muitas outras ações de qualificação foram realizadas e ainda seguem acontecendo na Rota, sempre em busca de fortalecer as micro e pequenas empresas e aprimorar os produtos e serviços oferecidos aos visitantes. 

Ainda há um longo caminho pela frente para tornar a região um destino turístico, mas o SEBRAE e seus parceiros seguem apostando no futuro e trabalhando pelo crescimento sustentável de toda região. 

OS OBJETIVOS


  • Recuperar e preservar o valor histórico, etnográfico e ecológico da Antiga Ferrovia Bahia-Minas;
  • Promover a integração turística entre regiões e municípios; 
  • Oferecer e facilitar a prática do cicloturismo, ciclismo, trekking e o ecoturismo; 
  • Promover acesso e ampliação de oportunidades aos visitantes, que desejam usufruir de áreas naturais, rurais e urbanas; 
  • Possibilitar novas experiências sensoriais, visuais, intelectuais, combinados com a paisagem, desperta novos sentimentos; 
  • Apoiar e fortalecer os pequenos negócios rurais e urbanos através do suporte para melhoria da produção, gestão, empreendedorismo e preparação do território para a expansão das oportunidades relacionadas ao ecoturismo e práticas que gerem acesso à saúde e bem estar; 
  • Estimular a educação empreendera e ambiental;
  • Contribuir com o desenvolvimento regional e crescimento econômico inclusivo e sustentável dos municípios participantes

REALIZADORES

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Apoiadores

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